A
Última Viagem de Táxi
Recebi por
E-mail de um grande amigo e colega de Ginásio,
Professor João Jerônimo de Medeiros, comovido com a leitura
do texto resolvi dividir com vocês amigos do blog –Acervo Musical. João
Medeiros sempre foi um colega estudioso e cumpridor de seus deveres; o tempo
nos separou durante muitos anos e hoje graças ao advento da informática quis o
destino de aproximar-nos novamente. Com seu brilhante desempenho como prof.
Universitário, na cidade de Tubarão SC, escritor, tem nos brindados com artigos
sugestivos e contos criativos. Obrigado
amigo, colega também na profissão; e que este texto que relato sirva de
exemplos para muitas pessoas, pois estamos passando por uma verdadeira ausência
de amor fraterno, sem egoísmo, sinceros.
No momento em que o país atravessa está falta de confraternização, amor, onde só
ouvimos notícias ruins, um humilde taxista dá-nos um exemplo comovente. Tenham
todos um bom final de semana, na paz e na concórdia do criador.
TAXISTA DE CURITIBA
Depoimento de um taxista de Curitiba
“Houve um tempo em que eu ganhava a vida como motorista de táxi. Os
passageiros embarcavam totalmente anônimos. E, às vezes, me contavam episódios
de suas vidas, suas alegrias e suas tristezas.
Encontrei pessoas que me surpreenderam. Mas, NENHUMA como
aquela da noite de 25 para 26 de julho do último ano em que trabalhei na praça.
Havia recebido já tarde da noite uma chamada vinda de um pequeno
prédio de tijolinhos, em uma rua tranqüila, próximo do Largo da Ordem no São
Francisco, centro histórico de Curitiba, capital do Paraná. Eu estava
terminando o meu turno e estava querendo descansar. Mas resolvi atender a
última chamada que deveria ser breve.Quando cheguei ouvia cachorros latindo
longe. O prédio estava escuro, com exceção de uma única lâmpada acesa numa
janela do térreo. Nestas circunstâncias, outros teriam buzinado duas ou três
vezes, esperariam só um pouco e, então, iriam embora.
Mas,
eu sabia que muitas pessoas dependiam de táxis como único meio de transporte a
tal hora. A não ser, portanto, que a situação fosse claramente perigosa, eu
sempre esperava.
“Este passageiro pode ser alguém que necessita de ajuda”, pensei.
“Este passageiro pode ser alguém que necessita de ajuda”, pensei.
Assim, fui até a porta e bati.
“Um minutinho”, respondeu uma voz fraca e idosa.
Ouvi alguma coisa ser arrastada pelo chão… Depois de uma pausa
longa, a porta abriu-se. Vi-me então diante de uma senhora bem
idosa, pequenina e de frágil aparência.
Usava um vestido estampado e um chapéu bizarro daqueles usados pelas
senhoras idosas nos filmes da década de 40! E se equilibrava numa bengala,
enquanto segurava com dificuldade uma pequena mala. Dava para ver que a mobília
estava toda coberta com lençóis. Não havia relógios, roupas ou
adornos sobre os móveis. Num canto jazia uma caixa aberta com fotografias e
vidros. A velha senhora, esboçando então um tímido sorriso de quem havia já
perdido todos os dentes, pediu-me:
“O senhor poderia me ajudar com a mala?”
Eu peguei a mala e ajudei-a caminhar lentamente até o carro. E
enquanto se acomodava ela ficou me agradecendo.
-”Não é nada, apenas procuro tratar meus passageiros do jeito que
gostaria que tratassem minha velha mãe”.
-“ Oh!, você é um bom rapaz!”
Quando embarcamos, deu-me um endereço e pediu:
-“O senhor poderia ir pelo centro da cidade?”
-“ Este não é o trajeto mais curto”, alertei-a prontamente.
-“ Eu não me importo. Não estou com pressa. Meu destino é o último, o
asilo dos velhos”.
Surpreso, eu olhei pelo retrovisor. Os olhos da velhinha brilhavam
marejados.
-“ Eu não tenho mais família e o médico me disse que tenho muito pouco
tempo de vida”.
Disfarçadamente desliguei o taxímetro e perguntei:
-“Qual o caminho que a senhora deseja que eu tome?”
Nas horas seguintes nós dirigimos por toda a cidade. Ela mostrou-me o
edifício na Barão do Cerro Azul em que havia, em certa ocasião, trabalhado como
ascensorista. Nós passamos pelas cercanias do Centro Cívico, em que ela e o
esposo tinham vivido como recém-casados. E também por uma Igreja no Alto da
Glória, aonde iam sempre e onde também comemoraram Bodas de Ouro.
Ela pediu-me que passasse em frente a uma loja na Dr. Muricy com
a José Loureiro, que ela dizia ser um clube alemão, que tinha um grande salão
de dança que ela freqüentara quando mocinha.
De vez em quando, pedia-me para dirigir vagarosamente em frente a um
edifício ou esquina. Era quando ficava então com os olhos fixos na
escuridão, sem dizer nada. E olhava, olhava e suspirava… E assim rodamos a
noite inteirinha. Passamos por parques, praças, restaurantes, tudo o que vinha
vindo na imaginação e na lembrança da doce senhorinha.
Quando os primeiros raios do sol surgiram no horizonte, ela disse de
repente:
“Estou cansada e pronta. Vamos agora!”
“Estou cansada e pronta. Vamos agora!”
Seguimos, então, em silêncio, para o endereço que ela havia me dado.
Chegamos a uma casa comum no bairro do Parolin, uma pequena casa de repouso.
Duas atendentes caminharam até o taxi, assim que
paramos. Eram amáveis e atentas e logo se acercaram da velha
senhora, a quem pareciam esperar. Eu abri o porta-malas do
carro e levei a pequena valise (tipo de mala) até a porta. A senhora, já
sentada em uma cadeira de rodas, perguntou-me então pelo custo da corrida.
-“ Quanto lhe devo?”, ela perguntou, pegando a bolsa.
-“Nada!”, eu disse.-
“Você tem que ganhar a vida, meu jovem”
-“ Há outros passageiros”, respondi.
- Mas ela insistiu, disse que não precisava mais de dinheiro, e colou
2.000 reais no meu bolso da camisa. Eu não quis aceitar, mas ela foi incisiva
ao extremo, e quase sem pensar, curvei-me e dei-lhe um abraço. Ela me envolveu
comovidamente e devolveu-me com um beijo afetuoso e repleto da mais pura e
genuína gratidão e me disse:
-“Você deu a mim, bons momentos de alegria, como não tinha há tanto
tempo. Visitamos não só lugares, mas momentos que eu vivi. Só Deus é quem sabe
o quanto você fez por mim. Obrigada, MEU AMIGO! Mil vezes obrigada.”
Apertei sua mão pela última vez e caminhei até o carro que deixei na
Rua Brigadeiro Franco, onde ficava o asilo. Olhei para trás e vi uma moça que
fechava o portão. Ainda pude ver outros velhinhos repousando em cadeiras. Era como o
som do término de uma vida…
Sai daquele lugar com meu coração batendo de uma forma diferente.
Dirigi olhando o centro da cidade amanhecendo ao fundo e não conseguia parar de
chorar, e pensar como vivemos e ao que damos valor, se daqui não levamos
nada. Naquele dia não peguei mais passageiros.
Fiquei sem rumo, parei na Av. Pres. Kennedy, perdido nos meus
pensamentos. Mal podia falar.
Dois dias depois, tomei coragem e voltei no asilo para ver como estava
a minha mais nova amiga e quem sabe passear com ela de novo. Disseram-me,
então, que na noite anterior, seu coração parou durante a noite, e ela
adormecera para sempre, em paz e feliz. E fiquei a pensar, se a velhinha tivesse
pegado um taxi com um motorista mal-educado e raivoso… Ou, então, algum que
estivesse ansioso para terminar seu turno.
Ó, Deus! E se eu houvesse recusado a corrida? Ou tivesse buzinado uma
vez e ido embora? Ao relembrar, creio que eu jamais tenha feito algo mais
importante na minha vida até então.
Em geral nos condicionamos a pensar que nossas vidas são os nossos
objetivos e o nosso futuro. Mas a vida nos leva a vivenciar grandes momentos.
Todavia, os GRANDES MOMENTOS freqüentemente nos pegam
desprevenidos e ficam guardados em recantos da nossa alma e que quase todo
mundo considera sem importância e, quando nos damos conta, estes GRANDES
MOMENTOS passam e nos esquecemos deles. Não geram mudanças.”
O vídeo abaixo fala por si; sem comentário....